quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Cão: realmente o melhor amigo do homem

Matéria produzida por mim em 2006 para a faculdade. Estive lendo alguns desses textos e achei que mereciam sair do anonimato. Então bora lá:

Cão: realmente o melhor amigo do homem
Ana Clara Lima Gaspar

Em qualquer grande metrópole mundial é possível notar a presença de moradores de rua. A exclusão social atinge até países mais desenvolvidos. Mas num país com uma desigualdade social tão brusca como é o Brasil, o problema tende a ser ainda mais grave. Caminhando pelas ruas do centro de São Paulo é impossível ignorar a quantidade impressionante de pessoas dormindo, se alimentando e vivendo nas ruas. Mas há uma coisa em que ninguém costuma reparar: na quantidade de animais que costumam rodear esses grupos de excluídos pela sociedade.

Estes marginais – no sentido literal da palavra, que vivem às margens da vida social urbana –, vivem nas ruas por diversos motivos. Alcoolismo e miséria figuram como alguns dos principais motivos. São pessoas que não tem ninguém, nem têm família: em muitos casos, foram abandonados pelos parentes. Tampouco têm companheiros. Passam seus dias à espera da compaixão da sociedade e da misericórdia divina. Definham diante de uma sociedade que não está nem aí para eles. Precisam se humilhar e pedir dinheiro para se alimentar, ou revirar latas de lixo em busca de algo que sirva como comida. Vivem na imundice e não têm qualquer perspectiva de sair do fundo poço.

Diante desse triste retrato de uma “sub-vida”, não é de se esperar que não haja alguém – além de algumas poucas instituições de caridade que distribuem sopas e cobertores durante o inverno – ao seu lado para dividir a agonia da espera pelo fim, pelo descanso eterno. Mas há sim algum tipo de companhia para esses excluídos. Os cachorros.

As cadelas de rua prenhas dão à luz a vários filhotes. Os mendigos dificilmente adotam um filhote. Geralmente os animais é que se aproximam dos humanos. Começam a seguir os mendigos, recebem restos de comida e começa, assim, a nascer uma ligação entre o homem e o animal.

As cenas que ocorrem com freqüência entre o mendigo e o cão são tocantes: o homem divide a rara comida disponível com aquele animal que é o único ser que lhe é e será fiel até o fim. Os cachorros, por mais sarnentos e mal cuidados que sejam, estão sempre ao seu lado. Os cães continuam do lado daquele que ele julga “dono” mesmo nas piores situações. Defende seu dono, não o abandona por nada, está sempre disposto a dar e receber atenção. Cachorros não reclamam da sujeira, da falta de alimentos, da sempre presente garrafa de pinga. São leais e permanecem junto ao dono independentemente do que houver.

Não é de se impressionar, por tanto, a emoção que os mendigos sentem quando algo acontece ao seu animal. Recentemente um cachorro de rua foi atropelado na Avenida Sumaré, na Zona Oeste de São Paulo. O dono, um morador de rua, ajoelhou-se no meio da rua e ficou um bom tempo debruçado sobre o cachorro morto, chorando compulsivamente, como se o cachorro fosse, de fato, a única coisa que lhe restava no mundo.

Mais uma prova da importância que o cachorro tem na vida do morador de rua é quando, nas noites de inverno intenso, os mendigos se negam a ir para albergues já que nesses locais não são aceitos animais.

Porém, nem tudo são flores. Mendigos incomodam a sociedade. Moradores de rua chocam, mas não pela miséria a que estão submetidos e sim pelo rastro de imundice que deixam. Como se eles buscassem comida em latas de lixo ou usassem a rua como banheiro público porque querem... Os cachorros também irritam a população. As pessoas alegam que os animais transmitem doenças, são agressivos, tornam a cidade mais feia e suja.

Mendigos são a mancha negra das grandes metrópoles. Recentemente, o Prefeito José Serra causou polêmica ao construir rampas anti-mendigo na região da Avenida Paulista, um dos principais pontos de lazer e comércio da cidade. Os moradores de rua envergonham as autoridades que, em vez de tentar resolver o problema da desigualdade, simplesmente passam uma massa de concreto pontiaguda na calçada, impedindo os mendigos de dormirem próximos ao lugar freqüentado por turistas e pessoas de classe média e alta.

A grande quantidade de animais abandonados pelas ruas é um reflexo da sociedade que também condena muitos serem humanos a viverem como ratos. Obviamente, existem políticas públicas para evitar que essa marginalização ocorra. Porém, como tudo o mais no Brasil, o problema só tenta ser remediado quando toma proporções absurdas.

Em 2001 a Prefeitura de São Paulo criou o PSA (Programa Saúde do Animal) que visa diminuir o número de animais abandonados e sacrificados na cidade, além de tentar reduzir a ocorrência de zoonoses (a raiva, por exemplo). Esse programa tem como um de seus principais objetivos a esterilização em massa de cães e gatos, gratuitamente. Segundo o site oficial da Prefeitura de São Paulo, entre outubro de 2001 e dezembro de 2003, foram realizadas 55 mil cirurgias subsidiadas de esterilização em cães e gatos para proprietários sem qualquer recurso.

É obrigação da Prefeitura, conjuntamente às sociedades protetoras, promover campanhas de esterilização gratuitas (semelhantes as que fazem para a vacinação contra raiva) para atender, principalmente, a população que por ignorância e/ou falta de recursos, promove a proliferação dos animais que passam a viver nas ruas.

(tinha uma foto bem legal tb, mas não tô conseguindo carregar)


 
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