sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Salsicha: um drama

Sexta-feira, 19 de outubro. Estou eu me dirigindo para uma entrevista de emprego que, pela primeira vez, apontava alguma perspectiva. Dia frio e chuvoso, bode e sono. Rua Joaquim Eugênio de Lima, após cruzar a Alameda Campinas, me deparo com um pequeno Pet Show. 5 gaiolas revelavam alguns animais. Na maior delas, uns passarinhos. Numa média no chão, um filhotinho de labrador branquinho. Na lateral, empilhadas, 3 pequenas gaiolas. Na de baixo vejo um yorkshire. Na do meio, um lhasa apso. Na de cima, um basset. Tudo filhotinho. Não resisti. Saí da minha rota por alguns instantes e fui namorar a vitrine de bebês-bichinhos. O york tava na dele. O labrador latia. O lhasa estava agitado, não parava quieto. O salsicha dava patadinhas contra o vidro que nos separava.

Terça-feira, 23 de outubro. Primeiro dia de emprego. Deu certo, como eu supunha. Estou descendo a Eugênio de Lima em direção ao meu endereço comercial quando percebo a loja de animais sendo aberta. Lembrei dos cachorrinhos. O yorkshire não estava mais lá. Vendido para alguma dondoca. York é cachorro de dondoca, vide Giselle Bündchen e Vida, her yorkshire.

Sexta-feira, 26 de outubro. Estou saindo do trabalho esgotada. Passo pelo Pet Show que está fechando. Mais uma gaiola vazia, o labradorzinho se foi. Agora restam o lhasa e o basset.

Os dias passam, esqueço completamente o assunto. São 8h diárias de trabalho, quase 2 horas dentro do ônibus (ida e volta), mais umas 4 na PUC. Meu cérebro só me diz: CAMA.

Segunda-feira, 5 de novembro. Chego meio atrasada ao ponto de ônibus na Paulista. Desco a Eugênio e Lima e passo olhando tudo. Pessoas, roupas, calçada, revistas da banquinha, restaurantes e bato o olho na vitrine do pet shop. Apenas o salsicha permanecia lá. Cheguei perto do vidro. A carinha mais inocente e fofa do reino animal me encarou. Quase chorei. Animal mexe comigo de uma forma que nenhum ser humano consegue. Mas estava atrasada. Fui-me.

Passam os dias. Sempre com pressa, passo voando pela vitrine da loja. Lá está o basset.

Quarta-feira, 7 de novembro. Saio cedo do trampo e paro alguns instantes para olhar o basset. Ganhou um novo "amigo". Um pug está na gaiola do meio. Mas é o basset que me toca. Não paro de pensar nele. No caminho pra PUC penso: "O que será que acontece com os filhotes que não são vendidos?" Porque são muuuuitos filhotes que nascem. É impossível haver mercado para todos.
Fico com aquela dúvida me remoendo. Será que eles sacrificam?
Na hora o salsichinha me veio na cabeça e um nó na garganta se formou em mim.
Mas a Stella, minha amiga da PUC, me acalmou: "Os que não são vendidos voltam para o criador. A Associação Protetora dos Animais é super cuidadosa e rigorosa com essas coisas! O animal que não foi vendido vai virar reprodutor. Pode ficar tranquila: eles não sacrificam, não. E se você ouvir falar o contrário, denuncie!"
Claro que isso me deu um up. Mas o salsicha continuava lá (e nos meus pensamentos). Eu chegava em casa e via a Maggie na maior mordomia. Mimada, bem tratada, dormindo na cama, uma beleza. E o salsicha, coitado, numa gaiolinha esperando o dono. De cortar o coração, hein?
Prometi que uma hora entraria no pet shop e perguntaria o que eles faziam com os cachorros que não eram vendidos.

Mas ontem não deu. Nem hoje. Mas de segunda não passa.

Nunca fui muito fã de basset. Cães de pêlo curto não são meus favoritos - embora cachorro seja o meu "ser vivo" predileto. Mas esse bassetzinho neném a espera de um dono tá mexendo comigo. Não vou sossegar enquanto não souber o destino dele. Tomara que seja comprado por uma família amorosa , que adore animais e que nunca o abandone.

--*--

Para complementar esse post, uma crônica linda que li na "Veja" há um tempão. Coisa mais linda. Dá o maior nó na garganta.
É do Walcyr Carrasco, autor de várias novelas da Globo e um ótimo escritor.

Meu cachorro
Por Walcyr Carrasco


Meu cachorro está doente. É um husky e tem 14 anos. Dizem os conhecedores da raça que 12 anos é o tempo normal de vida. Mas sempre tive esperança de que fosse muito além. A mãe viveu até os 17. Seu nome é Uno.

Um terror, o meu cachorro! Duas vezes, bravamente, capturou ouriços. Dezenas de espinhos penetraram seu pêlo. Entraram em sua boca. Eu nunca vira um espinho de ouriço. É duro, pontudo! Impressionante. Fiquei a seu lado enquanto o veterinário arrancava um por um.

Mudei para a cidade. Meu cachorro envelheceu e passa longas horas deitado a meu lado vendo televisão. Deve achar um absurdo tantos tiros, beijos, lágrimas e juras de amor. Gosta de, simplesmente, ficar do meu lado. Ao olhá-lo, tenho uma sensação de conforto. Às vezes se levanta, bota a cabeça nas minhas pernas e eu coço suas orelhas. Sua boca se estica. Tenho a impressão de que é um sorriso.

É a terceira vez que o envio ao veterinário em duas semanas. Agora, nem conseguia ficar em pé, de tão frágil. Sinto angústia só de pensar em sua imensa solidão, longe do tapete onde costuma dormir, sendo picado, mal comendo e, principalmente, sem alguém que lhe acaricie o pêlo. A doença deve ser um mistério para ele mesmo.

O amor de um cão é incondicional. Vejo mendigos na rua acompanhados de cachorros esquálidos que não os abandonam e até os protegem nas noites escuras. Vejo crianças a quem o cão ajuda a conhecer o afeto. Eu sei que meu cachorro está partindo. Se não for agora será daqui a semanas ou meses, pois uma coisa vira outra, e outra. Ou ele não conseguirá resistir ou chegará a um ponto em que terei de dar um nó no coração e abreviar seu sofrimento. Eu tenho de resistir e fazer o melhor. Coçar sua barriga e falar palavras docemente. E, se puder, quando chegar a hora, colocá-lo em meu colo e dizer quanto o amo.

Quando me sentei diante do computador, queria escrever linhas engraçadas, repletas de bom humor. Foi impossível. Meu sentimento falou mais alto. Quem já amou um cão entende minha dor.


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Não consigo ler sem me emocionar. Estou chorando que nem uma idiota. Mas é como ele disse: "Quem já amou um cão entende a minha dor". Ou, no caso, emoção.

Vocês ainda vão ler muito sobre cachorros. Eis a minha grande paixão.

Um comentário:

Umah disse...

juro q leio a crônica amanha... po, hoje já xorei mto com green mile e com deus é brasileiro... rhrhrhr
cara... d verdade, salsicha é o dog q menos me simpatizo... d verdade... não aguento akele ar de tonto q ele tem... além do mais, nunca conheci um dono de salsisha legau... não q me lembre XP
d qqer forma... tbm tenho essa dúvida qto aos doguitos q nao são levados pra lares aconchegantes...

 
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