sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

raindrops keep falling on my head...

ultimamente tanta coisa vem à minha cabeça quando a chuva me pega no caminho pra casa...
abro o guarda-chuva, mas não guardo realmente nada...
libero os pensamentos... me libero dos horários... me libero de compromissos... libero até mesmo minhas lágrimas bem comportadas pra dar uma voltinha...
penso na sociedade... na nossa educação social... em como tentamos driblar qualquer obstáculo da natureza, até os mais inofensivos... "a natureza busca equilíbrio, o homem o excesso"...
algo me diz que classificar o mundo entre "natureza" e "humanidade" não é a melhor escolha... os dois são parte de um todo, porém, apenas um precisa do outro...
de qualquer forma, lutamos e trabalhamos diariamente contra qualquer "incômodo natural" que possa afetar nossa "felicidade artificial", condicionada, nossos ideais socialmente aceitáveis...
caminhar até sua casa... correr o risco de se molhar... correr o risco de se machucar... correr o risco de ficar sozinho... correr o risco de refletir...
hoje, mais do que ontem, podemos resolver de formas diferentes qualquer risco que a natureza nos proporciona...
trabalhamos duro pra isso...
trabalhamos duro pra conquistar/comprar as facilidades que nos convém...
e, humana, não posso deixar de me perguntar: e eu?
sou parte disso? direta e indiretamente? me rendo? me vendo? trabalho loucamente pra conseguir comprar o carro do ano e não me molhar no caminho de volta? dôo dons por algum trocado e negocio cruelmente minha liberdade em troca de conforto?
a natureza está aí, está bem aqui! salve-se quem puder! quem não puder será pego, medido e julgado pelos demais... por, nada mais nada menos, que seus próprios irmãos, seus semelhantes...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

virtude x instinto - vol I

vou contar uma história que alguns podem considerar uma derrota...

a todo momento batalhas são travadas... a incessante luta entre virtudes e instintos...

não pode haver mais de um vencedor... não deve haver... não que exista o bem e mal, mas não deve haver oscilação... não pode haver alternância de poder, a batalha só pode ter um superior: a virtude, e, a partir do momento que o instinto se sobrepõe: adeus, não há retorno...

estive guerreando... ontem, agora me parece tão distante... por horas minhas virtudes venceram, era uma vitória eminente, até quem me cercava, assistindo a batalha, já comemorava... eu era vitoriosa... vitória, palavra irônica pra ser usada nesse caso...

o instinto me parecia tão fraco, chegava a me dar dó de ser um oponente tão simplista, tão imediatista, repetitivo, sem criatividade, de certa forma até inocente, pensava eu...

"eu sei, mas hoje não!"
"se não hoje, quando?"
"isso eu não sei..."

traiçoeiro... um oponente sujo... sorrateiro... me entreteu horas a fio... minhas forças já praticamente dispersas e guardadas graças à vitória tão certa... um golpe... apenas um golpe...

o que antes parecia fraco, parecia despreocupante, parecia até mesmo sob controle, mostrou suas garras e fui posta à prova... perdi... mil vezes: perdi...

me entreguei ao instinto... me deixei levar no momento final... compreendi então que o inimigo estava atacando a todo momento, por baixo do pano... frio e calculista estava apenas me entretendo, jogando comigo, me fazendo seu brinquedo para, num momento de total distração e gozo da vitória prematura, vencer com um golpe... um golpe sujo... suja... fraca... mil vezes: fraca...

não vai importar as horas que resisti... eu não tive coragem, habilidade, firmeza para dar o golpe final... mantive a "educação", a "consideração" e os instintos se apossaram do meu corpo...

só eu sei a amargura das lágrimas contidas... a desmotivação e a autoflagelação que se instalaram desde então no meu ser...

não há caminho de volta... aconteceu... me arrependo enormemente, mas aconteceu... não há mais o que possa ser feito, nem desculpas a serem dadas, nem promessas, nem juras... sobram sonhos comprometidos... mas nada, além da derrota, será considerado...

"você se rendeu."
"eu lutei!"
"mas se rendeu..."

dói... muito...
a natureza me castiga...
apenas agradeço a lição... a oportunidade...
e espero a compreensão... a libertadora compreensão... mãe de todo o bem...

nunca pensei que realizar um desejo antigo e esquecido pudesse trazer tanto tormento...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A arriscada aposta da Globo com "Caminho das Índias"

Me digam: vocês acham realmente uma boa idéia abordar o hinduísmo numa novela das 8 da Globo? Tá, todo mundo sabe o quão essencial é uma "mudança de horizontes" numa novela, todo mundo tá cansado da Bossa Nova, da Barra e da Helena do Manuel Carlos, ou da São Paulo de Silvio de Abreu. Porém, é inegável que as histórias são sempre muito bem construídas, os atores bem dirigidos e as tramas envolventes, mesmo que sejam o mais do mesmo. Mas... Índia? Hinduísmo?
Vocês acham mesmo que o cidadão médio brasileiro entende essa história de castas e brâmanes? De Kama Sutra, Krishna, Brahma? Pro brasileiro comum, Kama Sutra é candelabro italiano, e não leis hinduístas que ensinam sobre relacionamentos e formas de prazer de modo a ter uma vida mais completa. Krishna é gente de cabelo raspado e roupas laranjas que vendem incenso na Paulista, e não uma representação de um dos deuses do Hinduísmo. E Brahma... Brahma é cerveja, pô, e não o principal deus na Trindade hinduísta.
E, pior: o cidadão médio brasileiro (a sua manicure, o porteiro do prédio, a recepcionista do seu trabalho, os idosos da fila do INSS, seu avô imigrante que não terminou os estudos e trabalhou desde a infância, a caixa do supermercado...) entendem essa história de vários deuses? Se "Caminho das Índias" fosse sobre a Arábia Saudita, por exemplo, o roteiro teria que lidar com o Islamismo que, por mais distante dos costumes cristãos, no fim das contas é bem parecido: tem a mesma raiz e, o mais importante, é monoteísta.
Francamente: uma boa parte das pessoas ditas cultas - aquela ridícula fatia de 2% da população que concluiu o ensino superior - não sabe nada sobre qualquer religião que não a sua (muito provavelmente uma religião cristã). Acho que renderia uma boa pesquisa sair nas faculdades do Brasil afora fazendo perguntas sobre budismo, islamismo, hinduísmo.
E aí Glória Perez toda ousada me vem falar de romances proibidos entre castas, de sacerdotes hinduístas, filosofia, tradições e costumes indianos? (Nem vou entrar no mérito da superficialidade com que a novela trata esses temas).
Olha, está longe de ser uma surpresa para mim o baixíssimo ibope dessa "Caminho das Índias". Sábado passado, dia 31, alcançou míseros 24 pontos de audiência (só como referência: "A Favorita" tinha uma média de 50 pontos)!
Gente, novela das 8 da Globo é o principal produto da cultura média brasileira (note: não estou afirmando que isso é positivo). As novelas das 8 há um bom tempo se consolidaram como um grande laboratório da cultura nacional. Nelas são lançadas as gírias e bordões que logo estarão na boca do povo. Os novos celulares que venderão como água no mercado fazem seu merchandising primeiro por lá; os cortes de cabelo das personagens ganharão as ruas; novos costumes e polêmicas são apresentados a cada novela, ditando o ritmo da vida e das conversas na sociedade.
Como disse acima, é inegável a influência da novela das 8 na sociedade brasileira. E é lógico que a alta cúpula da emissora sabe disso. Então estranho muuuito que um tema complexo como os costumes e a religião indianos sejam o foco dessa novela. Como isso foi aprovado pela alta cúpula global?
Glória Perez é cheia dessas. Lembremos as novelas recentes dela: "América" era sobre imigrantes ilegais nos EUA. Ok, qualquer brasileiro que acompanhe o Jornal Nacional (mais da metade da população) conhece o problema, mesmo que pouco entenda de geografia e menos ainda sobre política mundial. Aí teve "O Clone", em que uma parte da novela foi ambientada no Marrocos. Note: uma parte da novela, não ela inteira. E quais costumes árabes foram abordados? Dança do ventre, casamento arranjado. Not a big deal, né?
Essa "Caminho das Índias" é de longe a novela mais ousada que a Globo já produziu, já que o sucesso era um completo mistério (não pra mim, cá entre nós).
Enfim. Já faz tempo que eu queria botar pra fora isso.
Sou uma noveleira de carteirinha. Foram várias as novelas marcantes na televisão brasileira ao longo dos anos - inclusive da Glória Perez. Saberia citar os protagonistas de cada uma e seus personagens. Uma novela não precisa de muito para agradar o cidadão comum, é só fazer o mais do mesmo. Arriscar um pano de fundo totalmente novo até vai: Marrocos deu certo, lá no "Clone". Mas tocar nessa história de religião?
Não sou dona da verdade, mas eu aposto alto que logo alguma coisa vai acontecer nessa novela pra distanciar a discussão da questão religiosa. Ou então "Caminho das Índias" está fadada ao fracasso.
 
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