segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Fim de uma era

Daí que quinta-feira acabou a minha vida acadêmica. Não, não pretendo fazer pós. Quem sabe um outro curso de graduação, mas ainda não pensei a respeito.
Terminei um curso fraco, com muitos professores picaretas, mas que tem nome no mercado, então ok.
Estudei com gente interessante e outras nem tanto. E não, vida universitária NÃO foi a melhor época da minha vida.

Na minha banca só apareceram 3 pessoas. Não que eu desejasse profundamente um grande público, mas... Né. Isso não me afetou, no entanto. Depois de reler e ensaiar umas 20 vezes o meu texto de apresentação do tcc, mandei ver. Saiu direitinho, exceto por eu ter comido um parágrafo importante.
A banca discutiu meu título, me elogiou horrores e chegaram à conclusão de que eu tenho paixão pelo jornalismo.
nigga what?

Acabo de concluir a faculdade e não sei o que eu quero da vida. Simples assim. Continuo tão perdida como estava ao começar a faculdade, em 2005.

Deveria estar feliz, tirei 10 e talz, mas... Tô é broxada, sem perspectivas de nada. 2008 foi um ano zuado, eu tô zuada, há alguns meses me sinto o cocô do cavalo do bandido, então...
Termina, 2008!

E agora vou colocar o texto que escrevi para a apresentação do meu tcc. Ao falar mudei umas coisas, comi outras, mas na essência foi isso aí:

Boa noite e obrigada pela presença de todos! Contar com a força de vocês é realmente importante para mim.

Queria antes de mais nada pedir perdão pq boa parte da minha apresentação vai ser lida, mas é que eu não tenho uma oralidade muito boa e se soma a isso o meu nervosismo... Capaz de eu me desesperar e começar a gaguejar em alguma hora, e com uma cola isso dificilmente acontecerá.

Também queria dizer que tenho noção da quantidade de erros no meu trabalho. São erros de digitação, de diagramação, de concordância... A cada vez que abro o livro acho mais correções a serem feitas! Mas é que como era um projeto experimental, resolvi EXPERIMENTAR mesmo. Não quis terceirizar o trabalho, queria tê-lo em mãos sabendo que era meu, que tudo ali era fruto do meu árduo trabalho de meses. Então eu que escrevi, que revisei, que diagramei. E que arco com os tantos erros.

Além disso, poucos trabalhos sofreram tantos imprevistos como o meu. Tive que adiar a banca 3 vezes, tive que refazer a diagramação inteira também três vezes, tive que refazer o trabalho de vários dias em poucas horas por escrever o tcc em várias máquinas diferentes, tive que voltar várias vezes na Gráfica para arrumar coisas do livro... Sempre chegava uma hora que eu queria mandar tudo pro inferno, mas felizmente eu persistia.

Bom, como cheguei a esse tema? Meu nome é Ana Clara, e meu sobrenome é indecisão. Perguntem para a Rachel ou para qualquer pessoa que conviveu comigo no começo do ano: passaram pela minha cabeça os temas mais despropositados e diferentes possíveis. Eu tenho uma paixão louca por animais, em especial cachorros. Queria escrever sobre eles, mas... Cachorro não fala! E entrevistar pessoas que cuidam de animais não era nem de longe minha intenção. Aí pensei em escrever sobre anti-sociais, mas... Quem sou eu para adentrar o mundo da psicologia com uma bagagem de ínfimos 2 livros lido sobre o tema? Cheguei a cogitar escrever sobre blogs, um tema presente no meu cotidiano e que me interessa muito (pra quem não sabe, tenho um blog de besteiras com 1500 acessos diários), mas esse assunto já tá sendo discutido por gente bem mais especializada do que eu.

Já era maio, e nada de um insight. Era uma sexta a noite, dia das minhas orientações com a Rachel, e eu estava conversando com a Stella sobre a eleição, e que a Marta Suplicy ia mesmo concorrer... Aí ela deu a idéia: pq vc não cobre a eleição, a campanha da Marta? Meus olhos brilharam e já contei pra Rachel, que aprovou.

Porque Marta Suplicy? Pq, queiram ou não, caros amigos, tenho uma identificação forte com o PT e principalmente com o governo da Marta, do qual meu pai participou. Foi naquela época que comecei a me interessar de verdade pela política e por aquele governo polêmico e ousado da Marta. Todos aqueles projetos feitos durante a gestão dela, que foram incorporados como conquistas da população... CEUs, Bilhete Único, Uniforme e material escolar para a rede pública... Tudo isso sobrevive e foi compromisso dos candidatos manter e ampliar.

Enfim: no começo do tcc eu pretendia acompanhar de perto a cobertura da mídia. Cheguei a fazer um blog para organizar as matérias e as minhas críticas a respeito, mas em pouco tempo percebi que aquilo seria impossível: análise de conteúdo é um trabalho que requer tempo, paciência e um número maior de pessoas. Desisti.

Enquanto isso, eu passava 9 horas do meu dia numa agência de marketing, num trabalho que me agradava a medida do possível, que era estável, pagava razoavelmente bem e tinha até plano médico. Mas não tinha absolutamente nada a ver com o meu tema e minhas inspirações profissionais. O que eu fiz? Joguei tudo pro alto, deixei meu emprego, meus amigos e minha estabilidade e me joguei de corpo e alma na campanha, trabalhando na assessoria de imprensa da campanha da Marta – que eu consegui por meio de influência do meu pai, que tinha trabalhado com boa parte do pessoal que comandava a campanha. Isso era junho.

Não sei o que eu esperava, mas foi totalmente o oposto... Me colocaram no clipping, que é o acompanhamento de rádios, TV, jornais e internet, mas aquilo pouco me ajudava. Eu queria ir para a rua, viver a campanha. No começo não trabalhava aos fins de semana, e os usava para ir nos eventos. Todos os eventos que conto no primeiro turno foram nesse esquema. Então, a coisa apertou. Comecei a trabalhar aos finais de semana – sem folga alguma, é claro. Não tinha como ir pra rua, mas tinha acesso aos bastidores de tudo. Foi nessa época que comecei a me questionar sobre que linha editorial eu adotaria. Sabia ser impossível fingir neutralidade. Sou fanática por política, assim como pessoas são com futebol. E, assim como no futebol, eu também tenho o meu time. E como escrever sobre “o meu time” com neutralidade?

Mas a Rachel me abriu os olhos. FINGIR neutralidade é exatamente o que a grande mídia vem fazendo. Manipulam opiniões por meio de escolhas editoriais pouco ou nada éticas, dando mais espaço às críticas negativas a determinados candidatos ou elogiando projetos de outros. Não vou entrar muito nesse mérito, porque os exemplos são mil e todos conhecemos bem. Isso tudo eu falo na introdução.

Então, resolvi não fugir e defender meu posicionamento. Acho que isso dá maior credibilidade e honestidade ao meu trabalho, por não ser um jornalismo de panfletagem, mas um relato com críticas e elogios ao modo como a campanha foi conduzida, sempre deixando claro o meu posicionamento.

Quando começou o segundo turno, o clima já era outro. A Marta tinha terminado abaixo do Kassab, a realidade de uma cidade anti-petista que derrotaria Marta vinha surgindo no horizonte. E é aí, na minha opinião, que meu tcc esquentou pra valer. No primeiro turno eu ainda estava meio perdida, mas no segundo a vivência no campo já me contagiava, e o relato ganhou mais vida e ânimo, mesmo com as circunstâncias nada favoráveis. E também participei de mais eventos, muitos com o Lula – e foi então que eu percebi o pq dos 70% de aprovação que ele tem. Sério, mesmo para quem não gosta dele... Experimentem ouvir um discurso inspirado dele. Mexe fundo com qualquer um, o cara é foda.

Mas tiveram também os debates... E aquela campanha agressiva da Marta... A história do comercial do “É casado, tem filhos?” daria um livro à parte, não apenas pelas contradições implícitas na idéia de questionar esse tipo de coisa – o que na minha opinião só foi tão grave pq todo mundo tava pré-determinado para ver “insinuações sobre homossexualidade” no conteúdo... Mas vem cá: o Alckmin não usava a Dona Lu a torto e direito em sua campanha? E o Maluf não usou e abusou da informação de que era casado há 50 e tantos anos? Sob esse viés, parece justo perguntar sobre a família do Kassab. Mas também acho que foi inocência do marqueteiro não prever o resultado disso. Enfim, cada um tem uma opinião sobre isso, eis a minha.

E teve também o caso do CEU Vila Formosa, que o Kassab tinha colocado no material de campanha como entregue ainda nessa gestão, e a Marta chegou lá e só tinha uma terraplanagem no terreno... Era a prova definitiva de que DEM e políticas de inclusão social são mundos diferentes.

Enfim, qual é a utilidade desse trabalho? Até então, é o único relato da eleição 2008 em São Paulo, ainda que sob o viés da derrota. Uma eleição em São Paulo, a 5ª maior cidade do mundo e a mais importante da América Latina tem sua cobertura plenamente justificada, por mexer diretamente com a vida de mais de 10 milhões de pessoas. E é por isso que resolvi não cortar nada do material e manter a quantidade de páginas que vocês vem: 186. Decidi que esse trabalho tem um caráter de livro consulta e não necessariamente de leitura. Servirá para estudantes que procurem saber sobre determinados momentos da eleição de 2008.

Na real, o livro poderia ser muuuito maior. Muito maior, muito melhor... Mas esse tipo de análise a gente só consegue fazer quando o trabalho está pronto.

Além dos erros, dos imprevistos e, lógico, da derrota da Marta, enfrentei muitas dificuldades na campanha – de pessoas que simplesmente não se importavam com meus interesses e não faziam o que estava ao seu alcance para me ajudar, mesmo que muitas fizessem além do que podiam por mim, mas o que pesou mesmo foi o preconceito. Gente, eu sempre enfrentei dificuldades pela minha ideologia política. Meu círculo social é elitista e conservador. Não foram nem uma, nem duas, nem três vezes que tive de enfrentar questionamentos, desrespeito e ataques contra o meu trabalho. Falar para alguém o que era o meu tema vinha seguido inevitavelmente por alguma expressão de desdém ou de asco. Bati boca inúmeras vezes, fiz inimizades, me estressei a ponto de chorar de raiva... Como é difícil defender alguma coisa!

E aí eu ia naqueles eventos na periferia mais pobre, lugares que o pessoal que tanto fala e finge fazer jamais esteve. E via o que os governos do PT (da Erundina e da Marta, no âmbito municipal, e do Lula, no âmbito federal) significavam para aquelas pessoas. O fato de Marta ter conseguido maioria de votos em boa parte das periferias mais pobres de São Paulo mesmo no segundo turno não é à toa. E é exatamente isso que explica o título do meu livro.

Vocês vão pensar no filme “Muito além do Jardim” (ou Being There) com o Peter Sellers, mas no filme o personagem principal sai do jardim pela primeira vez. A Marta não; ela é uma representante dessa área nobre de São Paulo, é representante da burguesia conservadora e preconceituosa, mas escolheu outro caminho. Sua campanha foi majoritariamente nas áreas pobres, e são nesses lugares – muito, muuuuito além dos Jardins, do Morumbi, de Perdizes – que ela tem uma base eleitoral solidificada desde que foi eleita em 2000.

Queria falar rapidinho sobre alguns “extras” do meu trabalho. Primeiro sobre o Observatório de Mídia, uma organização que acompanhou as matérias sobre os candidatos nos principais jornais e as qualificou como neutras, ambíguas, favoráveis ou desfavoráveis. Quer dizer, a análise do material de mídia que eu queria fazer no início estava toda lá! E foi muito, muito útil. Também sobre as fotos, do César Ogata, o fotógrafo da campanha. Algumas imagens valem mais do que mil palavras, certo? Então ficam aí as fotos para contar um pouco mais do que eu já relato nos textos. E também a entrevista com o Cezar Xavier, que cobriu todos os eventos de campanha da Marta. Ninguém melhor do que ele para relatar o que sentíamos nos bastidores e ir além disso tudo.

Cada aluno se dedica de uma forma ao seu tcc, mas acho que poucos viveram tão intensamente o seu trabalho como eu. Foram 4 meses ininterruptos de campanha sem descanso. Abdiquei de vida social, física e psíquica. Abdiquei de conforto e de descanso. Mas acho que consegui meu objetivo.

Ah, para finalizar, uma pergunta que todos me fizeram: PQ NÃO ENTREVISTEI A MARTA? A resposta é simples: não senti necessidade. Lá na assessoria chegavam perguntas da imprensa e do público em geral que iam desde as impressões dela sobre a campanha até seu prato favorito, tipo de música e bairro preferido em São Paulo. Tinha de tudo, tudo mesmo. E eu achei que uma entrevista minha não teria nada a adicionar.

É isso!


Um comentário:

B. disse...

Menine, sei bem como é essa coisa de se sentir "perdida", e digo mais. Eu era muito mais decidida e sabia muito melhor o que queria da vida ANTES de começar a faculdade, agora também estou prestes a terminar a minha, e as perspectivas futuras também não são das melhores. Também não penso em fazer pós, quero fazer outra graduação, em outra área (Pois é). Vida difícil.

Parabéns pelo TCC, seu texto está ótimo!

Beijo

 
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