terça-feira, 3 de março de 2009

Benjamin Button: quanto vale? - etc e tal.

Desde que comecei o meu tcc, lá por abril do ano passado, minha vida cultural passou a ser nula. Não vou a shows grandes desde Marisa Monte, em 2006. Teatro? Só às peças da minha tia. Fui ao cinema em 2008 3 vezes, a última em setembro, na estréia de "Cegueira". Não me orgulho disso, mas simplesmente não tava com tempo.

Jurei pra mim mesma que esse ano eu iria voltar a ir bastante ao cinema, como fazia nos idos de 2005, 2006 e 2007, quando eu chegava a assistir filmes cerca de duas vezes por semana. Maaaaaaaaaaas... Esqueci de um detalhe: não sou mais estudante, ou seja, não tenho mais direito a desconto de 50%. Ou seja², simplesmente não rola pagar R$ 15 numa sessão segunda-feira a tarde (perto de onde moro tem sessão que chega a R$ 30 no fim de semana!). E tipo, sorry, mas nenhum filme que está em cartaz me anima a ponto de gastar tanto. E-mule tá aí, né, gente. É feio e não tem o tesão de ver numa tela grandona, com som bem legal, no escurinho... Mas, é de graça. Depois reclamam da pirataria! Cobra menos então, poxa.

Quanto a shows... Já era caro com desconto de 50%. Não tendo mais esse benefício... Esquece. Todos os shows que me atraem não chegam a valer o que custam. Na verdade, só pagaria R$ 200 em concertos de bandas que não mais existem.

Mas ontem, depois de 6 meses de abstinência, fui ao cinema, uma amiga pagando o meu ingresso. Sessão das 21h50 no Shopping Eldorado, segunda-feira, meia dúzia de gatos pingados, literalmente.
Filme: "O Curioso Caso de Benjamin Button". Adoro que quando nos venderam os ingressos deixaram claro que a sessão tinha 3h - e carimbaram no ingresso a palavra "AVISADO" hahaha!

Bom. Como eu previa, não vale R$ 15. Eu acho a idéia do filme excelente. Quem nunca leu aquele texto do Charles Chaplin que vira e mexe a gente recebe por e-mail (colado na geladeira da Umah, inclusive) que diz que a vida deveria começar pela velhice e terminar num belo orgasmo? Pois é. Daria pra fazer um filme incrível...

Mas ele começa bem bom. A gente se empolga. Tem diálogos interessantes, um pouco de humor, um pouco de drama, tudo bem dosado. Mas chega nos 40 min de filme e você já se sente desconfortável, com a nítida sensação de que o diretor, que não tô afim de googlear o nome, tá enchendo linguiça (sem trema!) abundantemente.

E a partir desse ponto, a descida é ingreme. Não engrena mais, só fica naquele lenga-lenga amoroso. Malditos filmes que tem temas ótimos mas que enfiam horas de romance chato por acharem que sem história de amor o filme não vende.

Para quem viu, acho que até a parte em que o Benjamin está na Europa, antes de voltar pra Nova Orleans, é excelente. Desse ponto em diante, para não dormir, fiquei comentando com a minha amiga sobre a maquiagem, os efeitos especiais e o excesso de botox que enfiam no Brad Pitt.

Não me espanta o filme ter ganho Oscar pela maquiagem, pelos efeitos especiais e pela direção de arte, realmente mereceu. Mas o que é uma maquiagem sem um filme empolgante? Nem sei COMO "Benjamin" chegou a concorrer a melhor filme.

Aliás... E o Heath Ledger ganhando Oscar como ator coadjuvante? Mereceu, mas, cabe uma pergunta: "Batman - the dark knight" faria esse sucesso todo e Heath ganharia o Oscar se não tivesse morrido? D-U-V-I-D-O. Incrível o poder marketeiro de uma bela desgraça.

Para terminar: acaba de sair na Folha Online a notícia de que "Se eu Fosse Você 2", do Daniel Filho (continuação daquela água-com-açúcar em que Tony Ramos e Glória Pires trocam de corpo) é o filme nacional mais visto até hoje. Em 9 semanas em cartaz, segundo a nota da Folha, a fita foi assistida por 5.324.387 espectadores, quebrando o recorde que anteriormente pertencia a "2 filhos de Francisco", de Bruno Barreto.
Olha, sou louca por cinema nacional, acho super legal que passem a ser mais assistidos. Mas, poxa, tem que ser um tão exclusivamente global? E besta? E, pior, continuação?
Eu assisti o primeiro filme, "Se eu fosse você", achei bonzinho e só, bem no nível de qualquer outro que passe na "Sessão da tarde". Também vi "2 filhos de Francisco", que me surpreendeu positivamente. Não vi "Se eu fosse você 2", nem pretendo. Gente, tanto filme nacional ÚTIL por aí...

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

raindrops keep falling on my head...

ultimamente tanta coisa vem à minha cabeça quando a chuva me pega no caminho pra casa...
abro o guarda-chuva, mas não guardo realmente nada...
libero os pensamentos... me libero dos horários... me libero de compromissos... libero até mesmo minhas lágrimas bem comportadas pra dar uma voltinha...
penso na sociedade... na nossa educação social... em como tentamos driblar qualquer obstáculo da natureza, até os mais inofensivos... "a natureza busca equilíbrio, o homem o excesso"...
algo me diz que classificar o mundo entre "natureza" e "humanidade" não é a melhor escolha... os dois são parte de um todo, porém, apenas um precisa do outro...
de qualquer forma, lutamos e trabalhamos diariamente contra qualquer "incômodo natural" que possa afetar nossa "felicidade artificial", condicionada, nossos ideais socialmente aceitáveis...
caminhar até sua casa... correr o risco de se molhar... correr o risco de se machucar... correr o risco de ficar sozinho... correr o risco de refletir...
hoje, mais do que ontem, podemos resolver de formas diferentes qualquer risco que a natureza nos proporciona...
trabalhamos duro pra isso...
trabalhamos duro pra conquistar/comprar as facilidades que nos convém...
e, humana, não posso deixar de me perguntar: e eu?
sou parte disso? direta e indiretamente? me rendo? me vendo? trabalho loucamente pra conseguir comprar o carro do ano e não me molhar no caminho de volta? dôo dons por algum trocado e negocio cruelmente minha liberdade em troca de conforto?
a natureza está aí, está bem aqui! salve-se quem puder! quem não puder será pego, medido e julgado pelos demais... por, nada mais nada menos, que seus próprios irmãos, seus semelhantes...

domingo, 8 de fevereiro de 2009

virtude x instinto - vol I

vou contar uma história que alguns podem considerar uma derrota...

a todo momento batalhas são travadas... a incessante luta entre virtudes e instintos...

não pode haver mais de um vencedor... não deve haver... não que exista o bem e mal, mas não deve haver oscilação... não pode haver alternância de poder, a batalha só pode ter um superior: a virtude, e, a partir do momento que o instinto se sobrepõe: adeus, não há retorno...

estive guerreando... ontem, agora me parece tão distante... por horas minhas virtudes venceram, era uma vitória eminente, até quem me cercava, assistindo a batalha, já comemorava... eu era vitoriosa... vitória, palavra irônica pra ser usada nesse caso...

o instinto me parecia tão fraco, chegava a me dar dó de ser um oponente tão simplista, tão imediatista, repetitivo, sem criatividade, de certa forma até inocente, pensava eu...

"eu sei, mas hoje não!"
"se não hoje, quando?"
"isso eu não sei..."

traiçoeiro... um oponente sujo... sorrateiro... me entreteu horas a fio... minhas forças já praticamente dispersas e guardadas graças à vitória tão certa... um golpe... apenas um golpe...

o que antes parecia fraco, parecia despreocupante, parecia até mesmo sob controle, mostrou suas garras e fui posta à prova... perdi... mil vezes: perdi...

me entreguei ao instinto... me deixei levar no momento final... compreendi então que o inimigo estava atacando a todo momento, por baixo do pano... frio e calculista estava apenas me entretendo, jogando comigo, me fazendo seu brinquedo para, num momento de total distração e gozo da vitória prematura, vencer com um golpe... um golpe sujo... suja... fraca... mil vezes: fraca...

não vai importar as horas que resisti... eu não tive coragem, habilidade, firmeza para dar o golpe final... mantive a "educação", a "consideração" e os instintos se apossaram do meu corpo...

só eu sei a amargura das lágrimas contidas... a desmotivação e a autoflagelação que se instalaram desde então no meu ser...

não há caminho de volta... aconteceu... me arrependo enormemente, mas aconteceu... não há mais o que possa ser feito, nem desculpas a serem dadas, nem promessas, nem juras... sobram sonhos comprometidos... mas nada, além da derrota, será considerado...

"você se rendeu."
"eu lutei!"
"mas se rendeu..."

dói... muito...
a natureza me castiga...
apenas agradeço a lição... a oportunidade...
e espero a compreensão... a libertadora compreensão... mãe de todo o bem...

nunca pensei que realizar um desejo antigo e esquecido pudesse trazer tanto tormento...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A arriscada aposta da Globo com "Caminho das Índias"

Me digam: vocês acham realmente uma boa idéia abordar o hinduísmo numa novela das 8 da Globo? Tá, todo mundo sabe o quão essencial é uma "mudança de horizontes" numa novela, todo mundo tá cansado da Bossa Nova, da Barra e da Helena do Manuel Carlos, ou da São Paulo de Silvio de Abreu. Porém, é inegável que as histórias são sempre muito bem construídas, os atores bem dirigidos e as tramas envolventes, mesmo que sejam o mais do mesmo. Mas... Índia? Hinduísmo?
Vocês acham mesmo que o cidadão médio brasileiro entende essa história de castas e brâmanes? De Kama Sutra, Krishna, Brahma? Pro brasileiro comum, Kama Sutra é candelabro italiano, e não leis hinduístas que ensinam sobre relacionamentos e formas de prazer de modo a ter uma vida mais completa. Krishna é gente de cabelo raspado e roupas laranjas que vendem incenso na Paulista, e não uma representação de um dos deuses do Hinduísmo. E Brahma... Brahma é cerveja, pô, e não o principal deus na Trindade hinduísta.
E, pior: o cidadão médio brasileiro (a sua manicure, o porteiro do prédio, a recepcionista do seu trabalho, os idosos da fila do INSS, seu avô imigrante que não terminou os estudos e trabalhou desde a infância, a caixa do supermercado...) entendem essa história de vários deuses? Se "Caminho das Índias" fosse sobre a Arábia Saudita, por exemplo, o roteiro teria que lidar com o Islamismo que, por mais distante dos costumes cristãos, no fim das contas é bem parecido: tem a mesma raiz e, o mais importante, é monoteísta.
Francamente: uma boa parte das pessoas ditas cultas - aquela ridícula fatia de 2% da população que concluiu o ensino superior - não sabe nada sobre qualquer religião que não a sua (muito provavelmente uma religião cristã). Acho que renderia uma boa pesquisa sair nas faculdades do Brasil afora fazendo perguntas sobre budismo, islamismo, hinduísmo.
E aí Glória Perez toda ousada me vem falar de romances proibidos entre castas, de sacerdotes hinduístas, filosofia, tradições e costumes indianos? (Nem vou entrar no mérito da superficialidade com que a novela trata esses temas).
Olha, está longe de ser uma surpresa para mim o baixíssimo ibope dessa "Caminho das Índias". Sábado passado, dia 31, alcançou míseros 24 pontos de audiência (só como referência: "A Favorita" tinha uma média de 50 pontos)!
Gente, novela das 8 da Globo é o principal produto da cultura média brasileira (note: não estou afirmando que isso é positivo). As novelas das 8 há um bom tempo se consolidaram como um grande laboratório da cultura nacional. Nelas são lançadas as gírias e bordões que logo estarão na boca do povo. Os novos celulares que venderão como água no mercado fazem seu merchandising primeiro por lá; os cortes de cabelo das personagens ganharão as ruas; novos costumes e polêmicas são apresentados a cada novela, ditando o ritmo da vida e das conversas na sociedade.
Como disse acima, é inegável a influência da novela das 8 na sociedade brasileira. E é lógico que a alta cúpula da emissora sabe disso. Então estranho muuuito que um tema complexo como os costumes e a religião indianos sejam o foco dessa novela. Como isso foi aprovado pela alta cúpula global?
Glória Perez é cheia dessas. Lembremos as novelas recentes dela: "América" era sobre imigrantes ilegais nos EUA. Ok, qualquer brasileiro que acompanhe o Jornal Nacional (mais da metade da população) conhece o problema, mesmo que pouco entenda de geografia e menos ainda sobre política mundial. Aí teve "O Clone", em que uma parte da novela foi ambientada no Marrocos. Note: uma parte da novela, não ela inteira. E quais costumes árabes foram abordados? Dança do ventre, casamento arranjado. Not a big deal, né?
Essa "Caminho das Índias" é de longe a novela mais ousada que a Globo já produziu, já que o sucesso era um completo mistério (não pra mim, cá entre nós).
Enfim. Já faz tempo que eu queria botar pra fora isso.
Sou uma noveleira de carteirinha. Foram várias as novelas marcantes na televisão brasileira ao longo dos anos - inclusive da Glória Perez. Saberia citar os protagonistas de cada uma e seus personagens. Uma novela não precisa de muito para agradar o cidadão comum, é só fazer o mais do mesmo. Arriscar um pano de fundo totalmente novo até vai: Marrocos deu certo, lá no "Clone". Mas tocar nessa história de religião?
Não sou dona da verdade, mas eu aposto alto que logo alguma coisa vai acontecer nessa novela pra distanciar a discussão da questão religiosa. Ou então "Caminho das Índias" está fadada ao fracasso.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Cão: realmente o melhor amigo do homem

Matéria produzida por mim em 2006 para a faculdade. Estive lendo alguns desses textos e achei que mereciam sair do anonimato. Então bora lá:

Cão: realmente o melhor amigo do homem
Ana Clara Lima Gaspar

Em qualquer grande metrópole mundial é possível notar a presença de moradores de rua. A exclusão social atinge até países mais desenvolvidos. Mas num país com uma desigualdade social tão brusca como é o Brasil, o problema tende a ser ainda mais grave. Caminhando pelas ruas do centro de São Paulo é impossível ignorar a quantidade impressionante de pessoas dormindo, se alimentando e vivendo nas ruas. Mas há uma coisa em que ninguém costuma reparar: na quantidade de animais que costumam rodear esses grupos de excluídos pela sociedade.

Estes marginais – no sentido literal da palavra, que vivem às margens da vida social urbana –, vivem nas ruas por diversos motivos. Alcoolismo e miséria figuram como alguns dos principais motivos. São pessoas que não tem ninguém, nem têm família: em muitos casos, foram abandonados pelos parentes. Tampouco têm companheiros. Passam seus dias à espera da compaixão da sociedade e da misericórdia divina. Definham diante de uma sociedade que não está nem aí para eles. Precisam se humilhar e pedir dinheiro para se alimentar, ou revirar latas de lixo em busca de algo que sirva como comida. Vivem na imundice e não têm qualquer perspectiva de sair do fundo poço.

Diante desse triste retrato de uma “sub-vida”, não é de se esperar que não haja alguém – além de algumas poucas instituições de caridade que distribuem sopas e cobertores durante o inverno – ao seu lado para dividir a agonia da espera pelo fim, pelo descanso eterno. Mas há sim algum tipo de companhia para esses excluídos. Os cachorros.

As cadelas de rua prenhas dão à luz a vários filhotes. Os mendigos dificilmente adotam um filhote. Geralmente os animais é que se aproximam dos humanos. Começam a seguir os mendigos, recebem restos de comida e começa, assim, a nascer uma ligação entre o homem e o animal.

As cenas que ocorrem com freqüência entre o mendigo e o cão são tocantes: o homem divide a rara comida disponível com aquele animal que é o único ser que lhe é e será fiel até o fim. Os cachorros, por mais sarnentos e mal cuidados que sejam, estão sempre ao seu lado. Os cães continuam do lado daquele que ele julga “dono” mesmo nas piores situações. Defende seu dono, não o abandona por nada, está sempre disposto a dar e receber atenção. Cachorros não reclamam da sujeira, da falta de alimentos, da sempre presente garrafa de pinga. São leais e permanecem junto ao dono independentemente do que houver.

Não é de se impressionar, por tanto, a emoção que os mendigos sentem quando algo acontece ao seu animal. Recentemente um cachorro de rua foi atropelado na Avenida Sumaré, na Zona Oeste de São Paulo. O dono, um morador de rua, ajoelhou-se no meio da rua e ficou um bom tempo debruçado sobre o cachorro morto, chorando compulsivamente, como se o cachorro fosse, de fato, a única coisa que lhe restava no mundo.

Mais uma prova da importância que o cachorro tem na vida do morador de rua é quando, nas noites de inverno intenso, os mendigos se negam a ir para albergues já que nesses locais não são aceitos animais.

Porém, nem tudo são flores. Mendigos incomodam a sociedade. Moradores de rua chocam, mas não pela miséria a que estão submetidos e sim pelo rastro de imundice que deixam. Como se eles buscassem comida em latas de lixo ou usassem a rua como banheiro público porque querem... Os cachorros também irritam a população. As pessoas alegam que os animais transmitem doenças, são agressivos, tornam a cidade mais feia e suja.

Mendigos são a mancha negra das grandes metrópoles. Recentemente, o Prefeito José Serra causou polêmica ao construir rampas anti-mendigo na região da Avenida Paulista, um dos principais pontos de lazer e comércio da cidade. Os moradores de rua envergonham as autoridades que, em vez de tentar resolver o problema da desigualdade, simplesmente passam uma massa de concreto pontiaguda na calçada, impedindo os mendigos de dormirem próximos ao lugar freqüentado por turistas e pessoas de classe média e alta.

A grande quantidade de animais abandonados pelas ruas é um reflexo da sociedade que também condena muitos serem humanos a viverem como ratos. Obviamente, existem políticas públicas para evitar que essa marginalização ocorra. Porém, como tudo o mais no Brasil, o problema só tenta ser remediado quando toma proporções absurdas.

Em 2001 a Prefeitura de São Paulo criou o PSA (Programa Saúde do Animal) que visa diminuir o número de animais abandonados e sacrificados na cidade, além de tentar reduzir a ocorrência de zoonoses (a raiva, por exemplo). Esse programa tem como um de seus principais objetivos a esterilização em massa de cães e gatos, gratuitamente. Segundo o site oficial da Prefeitura de São Paulo, entre outubro de 2001 e dezembro de 2003, foram realizadas 55 mil cirurgias subsidiadas de esterilização em cães e gatos para proprietários sem qualquer recurso.

É obrigação da Prefeitura, conjuntamente às sociedades protetoras, promover campanhas de esterilização gratuitas (semelhantes as que fazem para a vacinação contra raiva) para atender, principalmente, a população que por ignorância e/ou falta de recursos, promove a proliferação dos animais que passam a viver nas ruas.

(tinha uma foto bem legal tb, mas não tô conseguindo carregar)


segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Fim de uma era

Daí que quinta-feira acabou a minha vida acadêmica. Não, não pretendo fazer pós. Quem sabe um outro curso de graduação, mas ainda não pensei a respeito.
Terminei um curso fraco, com muitos professores picaretas, mas que tem nome no mercado, então ok.
Estudei com gente interessante e outras nem tanto. E não, vida universitária NÃO foi a melhor época da minha vida.

Na minha banca só apareceram 3 pessoas. Não que eu desejasse profundamente um grande público, mas... Né. Isso não me afetou, no entanto. Depois de reler e ensaiar umas 20 vezes o meu texto de apresentação do tcc, mandei ver. Saiu direitinho, exceto por eu ter comido um parágrafo importante.
A banca discutiu meu título, me elogiou horrores e chegaram à conclusão de que eu tenho paixão pelo jornalismo.
nigga what?

Acabo de concluir a faculdade e não sei o que eu quero da vida. Simples assim. Continuo tão perdida como estava ao começar a faculdade, em 2005.

Deveria estar feliz, tirei 10 e talz, mas... Tô é broxada, sem perspectivas de nada. 2008 foi um ano zuado, eu tô zuada, há alguns meses me sinto o cocô do cavalo do bandido, então...
Termina, 2008!

E agora vou colocar o texto que escrevi para a apresentação do meu tcc. Ao falar mudei umas coisas, comi outras, mas na essência foi isso aí:

Boa noite e obrigada pela presença de todos! Contar com a força de vocês é realmente importante para mim.

Queria antes de mais nada pedir perdão pq boa parte da minha apresentação vai ser lida, mas é que eu não tenho uma oralidade muito boa e se soma a isso o meu nervosismo... Capaz de eu me desesperar e começar a gaguejar em alguma hora, e com uma cola isso dificilmente acontecerá.

Também queria dizer que tenho noção da quantidade de erros no meu trabalho. São erros de digitação, de diagramação, de concordância... A cada vez que abro o livro acho mais correções a serem feitas! Mas é que como era um projeto experimental, resolvi EXPERIMENTAR mesmo. Não quis terceirizar o trabalho, queria tê-lo em mãos sabendo que era meu, que tudo ali era fruto do meu árduo trabalho de meses. Então eu que escrevi, que revisei, que diagramei. E que arco com os tantos erros.

Além disso, poucos trabalhos sofreram tantos imprevistos como o meu. Tive que adiar a banca 3 vezes, tive que refazer a diagramação inteira também três vezes, tive que refazer o trabalho de vários dias em poucas horas por escrever o tcc em várias máquinas diferentes, tive que voltar várias vezes na Gráfica para arrumar coisas do livro... Sempre chegava uma hora que eu queria mandar tudo pro inferno, mas felizmente eu persistia.

Bom, como cheguei a esse tema? Meu nome é Ana Clara, e meu sobrenome é indecisão. Perguntem para a Rachel ou para qualquer pessoa que conviveu comigo no começo do ano: passaram pela minha cabeça os temas mais despropositados e diferentes possíveis. Eu tenho uma paixão louca por animais, em especial cachorros. Queria escrever sobre eles, mas... Cachorro não fala! E entrevistar pessoas que cuidam de animais não era nem de longe minha intenção. Aí pensei em escrever sobre anti-sociais, mas... Quem sou eu para adentrar o mundo da psicologia com uma bagagem de ínfimos 2 livros lido sobre o tema? Cheguei a cogitar escrever sobre blogs, um tema presente no meu cotidiano e que me interessa muito (pra quem não sabe, tenho um blog de besteiras com 1500 acessos diários), mas esse assunto já tá sendo discutido por gente bem mais especializada do que eu.

Já era maio, e nada de um insight. Era uma sexta a noite, dia das minhas orientações com a Rachel, e eu estava conversando com a Stella sobre a eleição, e que a Marta Suplicy ia mesmo concorrer... Aí ela deu a idéia: pq vc não cobre a eleição, a campanha da Marta? Meus olhos brilharam e já contei pra Rachel, que aprovou.

Porque Marta Suplicy? Pq, queiram ou não, caros amigos, tenho uma identificação forte com o PT e principalmente com o governo da Marta, do qual meu pai participou. Foi naquela época que comecei a me interessar de verdade pela política e por aquele governo polêmico e ousado da Marta. Todos aqueles projetos feitos durante a gestão dela, que foram incorporados como conquistas da população... CEUs, Bilhete Único, Uniforme e material escolar para a rede pública... Tudo isso sobrevive e foi compromisso dos candidatos manter e ampliar.

Enfim: no começo do tcc eu pretendia acompanhar de perto a cobertura da mídia. Cheguei a fazer um blog para organizar as matérias e as minhas críticas a respeito, mas em pouco tempo percebi que aquilo seria impossível: análise de conteúdo é um trabalho que requer tempo, paciência e um número maior de pessoas. Desisti.

Enquanto isso, eu passava 9 horas do meu dia numa agência de marketing, num trabalho que me agradava a medida do possível, que era estável, pagava razoavelmente bem e tinha até plano médico. Mas não tinha absolutamente nada a ver com o meu tema e minhas inspirações profissionais. O que eu fiz? Joguei tudo pro alto, deixei meu emprego, meus amigos e minha estabilidade e me joguei de corpo e alma na campanha, trabalhando na assessoria de imprensa da campanha da Marta – que eu consegui por meio de influência do meu pai, que tinha trabalhado com boa parte do pessoal que comandava a campanha. Isso era junho.

Não sei o que eu esperava, mas foi totalmente o oposto... Me colocaram no clipping, que é o acompanhamento de rádios, TV, jornais e internet, mas aquilo pouco me ajudava. Eu queria ir para a rua, viver a campanha. No começo não trabalhava aos fins de semana, e os usava para ir nos eventos. Todos os eventos que conto no primeiro turno foram nesse esquema. Então, a coisa apertou. Comecei a trabalhar aos finais de semana – sem folga alguma, é claro. Não tinha como ir pra rua, mas tinha acesso aos bastidores de tudo. Foi nessa época que comecei a me questionar sobre que linha editorial eu adotaria. Sabia ser impossível fingir neutralidade. Sou fanática por política, assim como pessoas são com futebol. E, assim como no futebol, eu também tenho o meu time. E como escrever sobre “o meu time” com neutralidade?

Mas a Rachel me abriu os olhos. FINGIR neutralidade é exatamente o que a grande mídia vem fazendo. Manipulam opiniões por meio de escolhas editoriais pouco ou nada éticas, dando mais espaço às críticas negativas a determinados candidatos ou elogiando projetos de outros. Não vou entrar muito nesse mérito, porque os exemplos são mil e todos conhecemos bem. Isso tudo eu falo na introdução.

Então, resolvi não fugir e defender meu posicionamento. Acho que isso dá maior credibilidade e honestidade ao meu trabalho, por não ser um jornalismo de panfletagem, mas um relato com críticas e elogios ao modo como a campanha foi conduzida, sempre deixando claro o meu posicionamento.

Quando começou o segundo turno, o clima já era outro. A Marta tinha terminado abaixo do Kassab, a realidade de uma cidade anti-petista que derrotaria Marta vinha surgindo no horizonte. E é aí, na minha opinião, que meu tcc esquentou pra valer. No primeiro turno eu ainda estava meio perdida, mas no segundo a vivência no campo já me contagiava, e o relato ganhou mais vida e ânimo, mesmo com as circunstâncias nada favoráveis. E também participei de mais eventos, muitos com o Lula – e foi então que eu percebi o pq dos 70% de aprovação que ele tem. Sério, mesmo para quem não gosta dele... Experimentem ouvir um discurso inspirado dele. Mexe fundo com qualquer um, o cara é foda.

Mas tiveram também os debates... E aquela campanha agressiva da Marta... A história do comercial do “É casado, tem filhos?” daria um livro à parte, não apenas pelas contradições implícitas na idéia de questionar esse tipo de coisa – o que na minha opinião só foi tão grave pq todo mundo tava pré-determinado para ver “insinuações sobre homossexualidade” no conteúdo... Mas vem cá: o Alckmin não usava a Dona Lu a torto e direito em sua campanha? E o Maluf não usou e abusou da informação de que era casado há 50 e tantos anos? Sob esse viés, parece justo perguntar sobre a família do Kassab. Mas também acho que foi inocência do marqueteiro não prever o resultado disso. Enfim, cada um tem uma opinião sobre isso, eis a minha.

E teve também o caso do CEU Vila Formosa, que o Kassab tinha colocado no material de campanha como entregue ainda nessa gestão, e a Marta chegou lá e só tinha uma terraplanagem no terreno... Era a prova definitiva de que DEM e políticas de inclusão social são mundos diferentes.

Enfim, qual é a utilidade desse trabalho? Até então, é o único relato da eleição 2008 em São Paulo, ainda que sob o viés da derrota. Uma eleição em São Paulo, a 5ª maior cidade do mundo e a mais importante da América Latina tem sua cobertura plenamente justificada, por mexer diretamente com a vida de mais de 10 milhões de pessoas. E é por isso que resolvi não cortar nada do material e manter a quantidade de páginas que vocês vem: 186. Decidi que esse trabalho tem um caráter de livro consulta e não necessariamente de leitura. Servirá para estudantes que procurem saber sobre determinados momentos da eleição de 2008.

Na real, o livro poderia ser muuuito maior. Muito maior, muito melhor... Mas esse tipo de análise a gente só consegue fazer quando o trabalho está pronto.

Além dos erros, dos imprevistos e, lógico, da derrota da Marta, enfrentei muitas dificuldades na campanha – de pessoas que simplesmente não se importavam com meus interesses e não faziam o que estava ao seu alcance para me ajudar, mesmo que muitas fizessem além do que podiam por mim, mas o que pesou mesmo foi o preconceito. Gente, eu sempre enfrentei dificuldades pela minha ideologia política. Meu círculo social é elitista e conservador. Não foram nem uma, nem duas, nem três vezes que tive de enfrentar questionamentos, desrespeito e ataques contra o meu trabalho. Falar para alguém o que era o meu tema vinha seguido inevitavelmente por alguma expressão de desdém ou de asco. Bati boca inúmeras vezes, fiz inimizades, me estressei a ponto de chorar de raiva... Como é difícil defender alguma coisa!

E aí eu ia naqueles eventos na periferia mais pobre, lugares que o pessoal que tanto fala e finge fazer jamais esteve. E via o que os governos do PT (da Erundina e da Marta, no âmbito municipal, e do Lula, no âmbito federal) significavam para aquelas pessoas. O fato de Marta ter conseguido maioria de votos em boa parte das periferias mais pobres de São Paulo mesmo no segundo turno não é à toa. E é exatamente isso que explica o título do meu livro.

Vocês vão pensar no filme “Muito além do Jardim” (ou Being There) com o Peter Sellers, mas no filme o personagem principal sai do jardim pela primeira vez. A Marta não; ela é uma representante dessa área nobre de São Paulo, é representante da burguesia conservadora e preconceituosa, mas escolheu outro caminho. Sua campanha foi majoritariamente nas áreas pobres, e são nesses lugares – muito, muuuuito além dos Jardins, do Morumbi, de Perdizes – que ela tem uma base eleitoral solidificada desde que foi eleita em 2000.

Queria falar rapidinho sobre alguns “extras” do meu trabalho. Primeiro sobre o Observatório de Mídia, uma organização que acompanhou as matérias sobre os candidatos nos principais jornais e as qualificou como neutras, ambíguas, favoráveis ou desfavoráveis. Quer dizer, a análise do material de mídia que eu queria fazer no início estava toda lá! E foi muito, muito útil. Também sobre as fotos, do César Ogata, o fotógrafo da campanha. Algumas imagens valem mais do que mil palavras, certo? Então ficam aí as fotos para contar um pouco mais do que eu já relato nos textos. E também a entrevista com o Cezar Xavier, que cobriu todos os eventos de campanha da Marta. Ninguém melhor do que ele para relatar o que sentíamos nos bastidores e ir além disso tudo.

Cada aluno se dedica de uma forma ao seu tcc, mas acho que poucos viveram tão intensamente o seu trabalho como eu. Foram 4 meses ininterruptos de campanha sem descanso. Abdiquei de vida social, física e psíquica. Abdiquei de conforto e de descanso. Mas acho que consegui meu objetivo.

Ah, para finalizar, uma pergunta que todos me fizeram: PQ NÃO ENTREVISTEI A MARTA? A resposta é simples: não senti necessidade. Lá na assessoria chegavam perguntas da imprensa e do público em geral que iam desde as impressões dela sobre a campanha até seu prato favorito, tipo de música e bairro preferido em São Paulo. Tinha de tudo, tudo mesmo. E eu achei que uma entrevista minha não teria nada a adicionar.

É isso!


 
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